terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Don't look back

Suas mãos eram sempre nervosas e instáveis, tanto que provocava acidentes por onde passava. O barulho de coisas quebradas era inseparável de seu riso fácil e passos barulhentos, a habilidade para quebrar os objetos só não foi tão prejudicial a sua vida social porque ele aprendeu a consertá-los. O estranho fato de alguém conseguir ser tão desastrado a ponto de fazer um pote de maionese cair apenas por pensar em pegá-lo contrastava com a destreza que ele tinha em colar os cacos dos vasos chineses que quebrou quando visitava uma tia... Por sorte a maioria dos objetos podem ser consertados, mas e quanto aos sentimentos? sinto muito, mas não haveria sentido nesse garoto ser tema desse blog se ele não provocasse acidentes sentimentais. O problema em partir corações é que sempre ficam as marcas, e pior ainda, não se pode comprar um coração novo pelo submarino ou na amazon.com. Ele tentou, parou de quebrar pratos, copos, jarros, mas toda vez que lhe davam um coração... Sentido não havia, apenas ele deixava que o pobre músculos escorregasse pelas suas mãos e se partisse, ou apertava com tanta força com medo de que perdesse que acaba quebrando do mesmo jeito.
Até que a lógica o visitou em uma tarde de quinta quando se lamentava e fumava um cigarro com gosto de canela, se ele não podia parar de machucar que descobrisse uma forma para consertar os corações partidos, uma cola especial, ou uma loja especializada onde consertassem e dessem alguma garantia... Já era complicado encontrar algúem que desse uma boa garantia naqueles tempos, esse talvez fosse o problema, prometiam que consertariam tudo, arrumariam os cacos, mas logo depois tudo se partia e os cacos eram ainda menores.
O cansaço o tomou depois de alguns anos de busca incessante, tentativas frustradas e amores sofridos, e a culpa, transformações só acontecem quando essa pequena palavra está envolvida. Ele não deixaria de ser desastrado, nem há uma forma eficaz de consertar corações partidos e sentimentos que entortaram. Lhe restaram duas escolhas, ficar sozinho e não ferir mais ninguém ou escolher sua vítima permanente e destruir seu coração acidentalmente até que fosse impossível qualquer conserto temporário. As duas idéias o assustavam, então como um bom medroso resolveu ficar só, mas aonde quer que fosse uma trilha de corações partidos o acompanhava, ele mesmo os cultivava, mas nunca mais se arrependeu ou olhou para trás, a culpa havia se tornado o seu adubo predileto.

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