sábado, 26 de abril de 2008

Clarice Lispector e Maria Bethânia

Depois de uma tarde de “quem sou eu” e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero – eis que às três horas da madrugada eu acordei e me encontrei. Sim, eu me encontrei. Calma, tranqüila, plenitude sem fulminação. Simplesmente isso. Eu sou eu. E você é você. È lindo, é vasto, vai durar. Por enquanto tu olhas para mim e me amas. Não: Tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.


Trecho do livro Água Viva da Clarice que foi declamado por Bethânia no Rosa dos Ventos: O show encantado em 1971.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A triste saga de um escultor que amava demais

Quando ainda era criança recebeu um grande bloco de madeira, disseram-lhe que nesse bloco o amor devia ser esculpido. Deram-lhe ferramentas, no início não tinha tanta habilidade e mesmo tendo muito amor (o bloco chegava a ter o triplo do seu tamanho) ele não conseguia utilizá-lo direito. Tentou bastante, até que conseguiu esculpir uma bela escultura, achava que ela era a forma definitiva do seu bloco, grande ilusão, havia se decepcionado e agora tinha que destruí-la, mas não poderia destruir o bloco. Foi difícil, sofreu bastante, foram dias de trabalho duro, lembro que chegou a sair sangue de suas mãos, mas ele conseguiu transformar aquela escultura em outra ainda mais bonita. Aprendeu a substituir amores antigos por novos sem deixar nenhum resquício do passado e estava consciente de que por mais bela que fosse a sua obra uma hora ela teria que mudar.Tornou-se um especialista, a cada novo amor fazia uma nova escultura e sempre se superava. O problema é que bloco ficava menor a medida que trocava de amores. Um dia restando apenas um pequeno pedaço de madeira, ele esculpiu uma flor. Aquela pequena flor era, sem dúvida alguma, a mais bela das esculturas que tinha feito. Gastara muito tempo para fazê-la, desde o momento de sua visualização até o último entalhe, tudo tinha sido trabalhoso. Agora tinha aquela flor, perfeitamente definida e com uma enorme riqueza de detalhes. Infelizmente investiu sua última tentativa de amar em algo platônico e unilateral. Agora não tinha madeira suficiente para esculpir algo novo. Teria que escolher entre passar o resto da vida com um amor não correspondido ou destruir a flor e não amar mais.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

atriz

Dessa vez encontrava-se em um posição totalmente nova. Abandonara os truques e joguinhos de sedução, alguns diziam que perdera a sua essência, tolos, ela só estava interpretando um novo personagem. Cortou os cabelos, reduziu a maquilagem e passou a usar roupas leves e claras, os olhares e risos provocantes foram substituídos por sorrisos tímidos... O que houve com a garota decidida que dominava todos os homens? ah, meus amigos, ela está apaixonada... se despiu da fantasia de Helena e agora é uma Penélope a esperar... esperar...

sábado, 5 de abril de 2008

Um dia qualquer que eu saí de casa na chuva para ligar para alguém

No bar, os bêbados retardatários tentam inutilmente afogar suas mágoas na cerveja cara e ruim, a luz do bar é a única coisa a iluminar a praça vazia, exceto pela presença dos dois. Ele na bicicleta, a camisa desabotoada. Ela o aperta em seus braços e enfia o seu rosto contra o peito dele. Ela chora desesperadamente e pede para que ele não a abandone. Uma chuva fraca os atinge. Ele a aninha em seus braços e mantém uma expressão tranqüila. Ela sente as batidas fortes do coração dele e deixa no seu peito uma mistura de chuva, suor e lágrimas. Olho para os dois e só vejo amor, no olhar dele e no desespero dela.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Imperfeito

O que há de errado em ser tão errado assim?

Pato Fu - Imperfeito