terça-feira, 3 de junho de 2008

Maré

Era um daqueles raros momentos em que você pode controlar o destino dos seus sentimentos. Os dois sentados frente a frente olhavam-se nos olhos tentando decifrar o que se passava entre eles. Ele não entendia o olhar dela, mas Ela sabia que era amor o que tinha nos olhos dele. Mas esse amor não ficaria ali por muito tempo. Os olhares levaram a pergunta inevitável. O que você sente por mim? A resposta dEla já era esperada... Nada original.
Ondas gigantes atingiram o lugar onde estava hospedado o amor dEle, o amor tentava nadar inutilmente, mas não tinha condições de lutar contra a força das marés. Essa estranha maré que não era regida pela lua, mas pelo coração, que fazia ondas maiores e mais fortes a cada pulsação. O amor gritava e ninguém ouvia, na verdade Ele ouvia, mas sua vontade era que aquele amor morresse. Os gritos o incomodavam, aquele amor era persistente e mesmo que o coração se esforçasse não conseguia afogá-lo. Ela falava amenidades, não, ela falava bobagens, não fazia idéia da luta que acontecia diante dos seus olhos, já não olhava fixo nos olhos dEle, então não percebia o amor que gritava dentro daquele garoto esperando para ser salvo.
Teve um momento que o magro corpo cansado não conseguia mais lutar, desistir não ia, não poderia desistir de sua existência, o amor queria sobreviver, e nunca se sabe ao certo da capacidade de um amor por mais magrinho que ele possa parecer. Parou de nadar contra as ondas, se lançou nelas, sabia que em algum momento alguém o tiraria dali, e foi boiando que ele conseguiu sobreviver... Continuou gritando, ele sabia que seus gritos não eram em vão e que outra pessoa estava a caminho para salvá-lo daquele coração imprudente.
Houve um silêncio, o grito inaudível do amor pareceu ecoar pela sala, e ela olhou nos olhos do garoto e notou que o brilho e o sorriso de outrora já não estavam presentes e se desesperou ao imaginar que poderia ser tarde e que talvez o amor tivesse morrido. Foi nesse instante que Ele teve uma fagulha de esperança ao olhar para os olhos dEla, ainda havia tempo para salvar aquele amor que já estava debilitado e cansado de tanto lutar, mas que ainda estava vivo.
As ondas se acalmaram, veio apenas uma grande e forte que o levou o amor até a praia. E voltou para os olhos dEle. Continuaram se olhando. Ela via o amor nos olhos dEle, Ele procurava reencontrar o amor que achou que tinha visto nos olhos dEla.



Um comentário:

Dan disse...

Eu gosto das suas personmificações e construções imaginativas. Vi uma praia grande, deserta, fria, e um corpo lutando contra a maré. E isso me fez ver um amor de verdade dentro dessas linhas...